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Você conhece o perifíton?

Esse nome você pode até não conhecer, mas você sabe o que é aquele lodinho verde que forma nas paredes dos aquários, ou sobre pedras, troncos e até em muros onde possui umidade. Isso mesmo, o limo! O limo é conhecido cientificamente como perifíton. Não é que tem gente que estuda isso?!


Figura: Substratos colonizados pela comunidade perifítica e imagem das microalgas perifíticas (ficoperifíton) (SCHWARZBOLD et al., 2013).


De acordo com Wetzel (1983), o perifíton se caracteriza como sendo um conjunto de microrganismos (algas, bactérias, fungos e animais), detritos orgânicos e inorgânicos aderidos a substratos artificiais ou naturais vivos ou mortos. Sendo considerado um biofilme que se desenvolve em superfícies submersas, ou úmidas.


Cerca de 95 a 99% da sua composição corresponde ao ficoperifíton (WETZEL, 1990), do grego “phycos”, alga, que é o nome dado a comunidade de microalgas presentes no perifíton. Poucos sabem a importância dessa comunidade nos ecossistemas aquáticos continentais.


A comunidade perifítica é considerada um dos principais produtores primários nos ecossistemas aquáticos continentais tropicais, principalmente em ambientes rasos, como córregos, riachos e lagoas costeiras, nos quais pode chegar a contribuir com cerca de 70 a 85% da produção primaria total (ESTEVES, 2011). E tem gente que acha que só existe fitoplâncton!


Segundo Moschini-Carlos (1999), o perifíton é rico em proteínas, vitaminas e minerais constitui um importante alimento para muitos organismos aquáticos, especialmente alguns peixes de importância econômica. Estudos apontam que a aquicultura (criação de peixes) baseada na comunidade perifítica é uma abordagem que possibilita a prática da criação de forma ecológica, e pode colaborar com o desenvolvimento de estratégias para o manejo sustentável dos ecossistemas aquáticos, reduzindo a quantidade de ração adicionada ao ambiente e consequentemente a eutrofização artificial (BERGAMIN, 2016; SIQUEIRA & RODRIGUES, 2009).


O perifíton é um componente-chave no ecossistema lacustre, tanto para a cadeia alimentar quanto para os ciclos de nutrientes (LOWE & PAN, 1996), podendo ser utilizado no diagnóstico de impactos ambientais, para detectar sinais precoces de eutrofização e estabelecer metas de recuperação (FERRAGUT, 2004).


Como a composição química do perifíton engloba todos os componentes da comunidade, inclusive detritos, pode ser empregada como indicadora da disponibilidade de nitrogênio e fósforo (SCHWARZBOLD et al., 2013). Assim, desempenhando um importante papel no fluxo energético e ciclagem de materiais, sendo responsável pela fixação de carbono e sequestro de nutrientes essenciais, como nitrogênio e fósforo, tornando-os disponíveis aos consumidores (DODDS, 2003).


O ficoperifíton é frequentemente utilizado em estudos ambientais como bioindicador da qualidade da água e de seu estado trófico por apresentar vantagens como modo de vida séssil, curto ciclo de vida dos organismos, resposta rápida a mudanças ambientais e elevada riqueza de espécies (LOWE & PAN, 1996; ESTEVES, 2011).


Além de todos esses benefícios para os ecossistemas aquáticos uma das vantagens de se trabalhar com essa comunidade é a variedade de substratos, onde pode-se escolher substratos naturais, como por exemplo macrófitas aquáticas, ou substratos artificiais, como lâminas de vidro. Cada substrato possui suas vantagens e desvantagens, porém uma que vale a pena ser citada aqui é a possibilidade de estudar a sucessão da comunidade perifítica através de substratos artificiais. Exatamente, assim como em uma floresta, com seus diversos estágios sucessionais!


Infelizmente, os estudos sobre a comunidade perifítica ainda são escassos quando comparado ao fitoplâncton e diante da grande diversidade de ambientes aquáticos em nosso país. Através da importância que essa comunidade desempenha no metabolismo dos ecossistemas aquáticos, faz-se necessário estudos para “desvendar seus mistérios”.


Fonte: Lorena Bergamin, https://limnonews.wordpress.com/2017/10/06/conhecendo-o-perifiton/


Bibliografia citada:


BERGAMIN, L. L. N., Avaliação da estrutura e dinâmica das algas perifíticas em sistema de piscicultura intensiva e sua contribuição para o manejo sustentável. 2016. 70 f. Monografia – Curso de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2016.


DODDS, W. K., 2003. The Role of Periphyton in Phosphorus Retention in Shallow Freshwater Aquatic Systems. J. Phycol. 39: 840–849.


ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2011.


FERRAGUT, C. Respostas das algas perifíticas e planctônicas à manipulação de nutrientes (n e p) em reservatório urbano (Lago do IAG, São Paulo). Tese de doutorado, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP. 184p. 2004.


LOWE, R. L.; PAN, Y. Benthic alga Icomunities as biological monitors. In:STEVENSON, J. R.; BOTHWRLL, M. L.; LOWE, R. L. (Eds.). Algal ecology: freshwater bentic ecosysterms. New York: Academic Press. p. 705-739. 1996.


MOSCHINI-CARLOS, V., 1999. Importância, estrutura e dinâmica da comunidade perifítica nos ecossistemas aquáticos continentais. In: Pompêo, M. L. M. (Org.). Perspectivas da limnologia no Brasil. São Luís: Ed. União: 91-103.


SCHWARZBOLD, A.; BURLIGA, A. L.; TORGAN, L. C. (Org.). Ecologia do Perifíton. São Carlos, SP: Rima, 2013. 397 p.


SIQUEIRA, N. S.; RODRIGUES, L. Biomassa perifítica em tanques-rede de criação de tilápia do nilo – Oreochromis niloticus (Linneau, 1758). Boletim do Instituto de Pesca (Online), v. 35, p. 181/3-190, 2009.


WETZEL, R.G. Land-water interfaces: metabolic and limnological regulators. Verh Internat Verein Limnol 1990. v 24, p. 6-24.


WETZEL, R.G. Opening remarks. In:Wetzel, R.G. Periphyton of freshwater ecosystems: Proceedings of the First International Workshop on Periphyton of Freshwater Ecosystems. 1ed. Boston:The Hague Dr. W. Junk. 1983. p.3-4.



Publicação: Viviane Miranda - Doutora em Ecologia e Evolução, Mestre em Engenharia Ambiental.


Contato:conversandocomaciencia@gmail.com

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